Técnico

Para ser grande é preciso ser pequeno

Há aproximadamente quatro anos, lendo um livro do Michael Gladwell, eu tive uma ideia: por que não um aplicativo para tirar proveito dos experts em ofertas? Na época os aplicativos sociais estavam bombando, então imaginei um onde as pessoas pudessem compartilhar as melhores ofertas de Shopping Centers. Eram muito bonitos os perfis dos usuários com sua árvore de dinheiro que estava sendo economizado. Trabalhamos um ano. Meu amigo Bruno Fuster fez uma arquitetura para suportar milhares de pessoas. André Gil e Eduardo Horvath criaram uma interface de usuário que até hoje surpreende pela beleza da execução. Saímos na MacMagazine, tivemos dois mil inscritos em uma noite. Chegamos a falar com um investidor. Mas tivemos apenas quatro ofertas cadastradas. Ofertas teste. Nosso mapa mundi que mostrava as ofertas ao redor do mundo nunca teve muito além de ofertas de mentirinha. Inúmeros fatores contribuíram para o nosso insucesso, mas minha principal lição foi: jamais, jamais crie algo sem ter ao menos noção do modelo de negócios.

Nada tira mais o foco do resultado que o perfeccionismo da execução. Programadores e Designers, especialmente, têm uma grande tendência a cair nesta armadilha. Não sei você, mas eu prefiro um aplicativo de sucesso mal executado do que um fracassado bem executado. E os aplicativos de sucesso daquela época eram muito mal executados. O FourSquare estava bombando, mas parecia feito por principiantes. O Mercado Livre já dominava o Brasil, mas eu mesmo vivia criticando seu Design de páginas amarelas. Eu os achava errados no seu sucesso enquanto eu estava certo no meu fracasso. Como eu disse aqui: para errar rápido é preciso enxergar o erro.

 

Nos meus futuros empreendimentos eu devo cometer outros erros. Mas para previnir dos que já cometi fico atento a algumas frases que eu costumava usar no passado:

1. “Depois a gente encontra como ganhar dinheiro”
Em um ano procurando como ganhar dinheiro nos meus insucessos encontrei dois reais na rua certo dia. Sim, isto é bem mais provável de acontecer com você também. Se você não pensar na monetização desde o inicio, o Design do produto pode ser a principal trava para a escalabilidade do seu negócio. Vejo falar muito em escalabilidade técnica do produto e pouco em escalabilidade conceitual do negócio.

2. “Isso não faz sentido”
Quando a gente diz que algo não faz sentido, muitas vezes, é apenas porque não entendemos. É comum a equipe de vendas tomar decisões que não fazem sentido, certo? Eu também tinha raiva disso confesso! Mas descobri uma coisa que me deixa com mais raiva ainda: equipe de profissionais talentosos cujos produtos são um fracasso de vendas!

3. “Quando todo mundo estiver usando”
É muito fácil imaginar o mundo ideal onde todos estão usando o seu aplicativo, mas se a sua idéia depende do mundo pra começar a rodar você está ignorando o simples fato de que o mundo não está nem aí pra você.

Nos workshops de Design Thinking que tenho participado é comum as pessoas ignorarem o mundo em que vivem. Surgem soluções que envolvem convencer os governos, espalhar sensores por todos os lados, etc. Incomoda-me não ter uma estratégia viável de como fazer isso. Não sou contra pensar grande, mas para ser grande você deve ser pequeno primeiro.  Foi assim com o Facebook. Foi assim com o Twitter. Foi assim com a Apple. É assim com a vida. Ignorar o Modelo de Negócios na fase de Design do produto o impede de elaborar uma estratégia para chegar lá. E sem saber onde se quer chegar você fica correndo em círculos. Ninguém muda o mundo do dia pra noite. Nem Steve Jobs fez isso. Você precisa de um plano, um norte. Também precisa ter como executá-lo em etapas. É uma verdadeira jornada, onde para começar é preciso dar o primeiro passo e, ao longo do caminho, é preciso saber se adaptar.

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