Técnico

Quando o Design é contra o Design

 

Sei que o título do artigo é no mínimo curioso, mas a idéia dele é exatamente essa, tratar de como e quando o Design pode ser contra o Design.

Eu atuo na área de Design há muito, muito tempo, digamos, desde os meus 15 anos, em diversos segmentos do Design até chegar ao Design Digital que tanto amo, focado hoje exclusivamente em UX/UI Design. No entanto, algo se repete sempre indiferente da área do Design, e é quando o Design pode ir contra o Design, sem mistério, estou falando do Benchmark.

Benchmark de Design é quando você busca diversas referências sobre aquilo que quer criar, para inspirar e facilitar a criação, é discutido sobre o Benchmark na fase de Braimstorm..  quando você procura olhar todas aquelas referencias visuais e procura ver o que pode tirar delas.

O Benchmark é fator fundamental na criação de algo na área de Design, e falando de User Interface não é diferente. Você só consegue criar uma User Interface do zero, sem qualquer referência quando já fez milhares delas, logo, o seu Benchmark já está no seu cérebro, de tudo que já viu e já fez ao longo dos anos…

Esse Benchmark não é perigoso, perigoso é o Benchmark que é trazido a você Designer, é quando todos os envolvidos em um projeto lhe traz referências visuais, para inspirá-lo.
É óbvio que isso irá facilitar o seu trabalho, isso é incontestável, mas há um fator psicológico que deve ser trabalhado, do contrário, o Design que foi trazido a você irá ser contra o Design que será feito.

O problema existe porque as pessoas que lhe trazem as referências muitas vezes se prendem totalmente a ela, e quando o Designer é novato, o que ele faz é ceder a pressão, e isso significa copiar totalmente o estilo daquilo que lhe foi trazido como referência… e nada se cria.. tudo se copia, eis a desculpa.

Diria que, a arte da cópia não está em espelhar um layout, e sim em se inspirar e melhorar o que já foi feito. Fizeram um layout bonito? Você gostou? O estilo é bacana? Há um ótimo contraste e as cores foram bem escolhidas? Ótimo, utilize como referência alguns desses fatores e faça algo melhor… sempre.

Quando eu estava começando a desenhar (tinha lá meus 10 anos) meu pai (ex-publicitário e pintor de quadros) me disse uma frase que me ajuda até hoje “Não utilize a borracha, ela não te ajuda a criar algo novo e melhor, ela apenas esconde o defeito, mas não te inspira….”  Parte do conselho é esse, e termina me dizendo que o ideal era quando errasse um desenho, pegar e amassar o papel, começar um outro do zero, e ele sairia melhor, e sempre melhor. Isso seria utilizar o seu próprio desenho como Benchmark.

Hoje eu faço isso com layouts, utilizo minhas próprias criações como Benchmark, a técnica utilizada é a seguinte, eu começo a criar do nada qualquer User Interface, e geralmente as pessoas passam pela minha mesa e dizem  “Nossa Edu, isso não está legal…”  é normal, e é assim que tem que ser, o que estou fazendo é criando um processo cerebral para inspiração, é quando então jogo fora aquela arte, e começo a criar outra, e melhoro algo que não havia pensado.

Mas afinal, quando então o Design está contra o Design? É quando você está preso ao Benchmark, e ísso mesmo se esse Benchmark for seu, se o layout de referência tiver sido criado por você. Acredite, o desapego a arte é fator fundamental de inspiração. Saber amassar o papel e jogar fora o seu desenho só irá fazer com que você se torne um expert… mas… se apegar a um detalhe do desenho que você fez e achou que ficou bom, e então refinar aquilo ao máximo, só irá te limitar.

Quando alguém lhe trouxer os Benchmarks, entenda o que tais pessoas viram naquelas referências e não a referência em si, eu analiso porque uma determinada pessoa gostou de tal e tal layout, percebo como o Designer daquele layout utilizou o contraste, as cores, como ele posicionou os elementos, o tamanho desses elementos, os agrupamentos, etc.. analiso tudo isso e claro, o contexto daquela aplicação, site, etc. Só então a partir disso procuro refletir e começar a minha criação.

Errar é normal, mas, insistir no erro…  Portanto, não ceda a pressão, eu chamo isso de “agradar gregos e troianos” Uns gostam daquela referência ali, clean, com aquele pattern X, etc, o outro prefere aquele layout cujos botões estão em destaque, e então se refere a disposição dos elementos e assim sucessivamente. Não se prenda a isso, se você é o Designer você sabe o que está fazendo, como e porque vai conseguir não agradar gregos e troianos, mas o reino inteiro…

É importante ter isso em mente, porque a maioria dos novatos cedem a pressão, alguns até copiam como disse, o layout inteiro que foi inserido no Benchmark, já que, o contexto é outro mesmo, justifica ele. Porém, o que acontece é, em certo tempo ele resolve a demanda, mas não se inspirou e não melhorou seu próprio expertise. E fazer arte por demanda, não é arte, é artifício!

Esses são desafios constantes da vida do Designer, quer seja ele da área que for, ele está lidando com o fator inspiração, e criar não é algo fácil, eu costumo dizer que “Minha profissão torna o mundo um lugar melhor para se viver” do ponto de vista estético e funcional é claro, já que, para onde você olha, há design, o computador que você utiliza para ler esse artigo (espero que seja um Mac) foi feito por um Designer, desde o produto físico até o sistema operacional, terminando na Interface do browser, sem falar é claro, no local que você está sentado nesse momento, se está ruim, culpe o Designer de produtos, ele não pensou na ergonomia, se está confortável.. bom… Design é isso, mas não deixe o Design ser contra o Design, Inspire-se…

 

 

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Eduardo Horvath é UX Specialist e Designer na redspark.
Formado pela Faculdade Impacta de Tecnologia no curso Design de Mídia Digital ele atua na área de Design há mais de 15 anos.
@eduardohorvath

 

6 Comments

  • Rafael Daron disse:

    Parabéns pelo conteúdo Horvath!

    Me instigou a melhorar a maneira de como trabalhar com as idéias “fantásticas” vindas de outros membros da equipe.

  • Eduardo Horvath disse:

    Opa Rafael, como está? Fico feliz que tenha gostado de mais um artigo. Espero que esteja indo de vento em poupa sua equipe =]

  • Anderson disse:

    Realmente é muito dificil saber o que cada um gostou nas referencias apresentadas no inicio de um projeto. Geralmente eles gostam de algo mas não sabem o que, gostou do logotipo mas não sabe o que foi, a forma, a cor talvez… O melhor passo como você mesmo disse é conseguir entender para não cair na cópia e, ao longo do tempo, usar seu próprio benchmark.
    Ótimo texto.

  • Eduardo Horvath disse:

    Exatamente Anderson, essa é a idéia. Ter consciência do que acontece nos projetos (em relação ao Benchmark) pode ajudar e muito a encurtar um longo caminho de criação que geralmente acontece por falta dessa percepção correta.
    Fico feliz que tenha curtido o texto.

  • Rodrigo disse:

    Muito bom Eduardo. Você colocou muito bem as dificuldades q um designer (pelo menos eu) sofre na parte de criação. Gostei bastante do: errou? amasse o papel e comece um novo desenho.

  • Alexsander disse:

    Realmente é difícil criar tendo que cumprir a “demanda”, ideias como jogar o papel fora são realmente validas, quando ha tempo para o mesmo. Algo realmente difícil é fazer entender que desenvolver alguma interface não é algo baseados apenas em cliques em botões mágicos que fazem o produto final ficar perfeito, e sim todo um processo de inspiração e sintonia com oque esta sendo criado…

    Algo que realmente me tira do sério é precisar “adaptar” os meus trabalhos para agradar meus superiores apenas por eles não entenderem que oque eu faço e para agradar gregos e troianos.

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