Técnico

A Revista Java Magazine e a Guerra das RIAs

A edição 63 da revista Java Magazine traz como reportagem de capa “A Guerra do RIA”. Pelo título, deduzi que objetivo era mostrar os prós e contras de cada tecnologia envolvida nesta guerra. Mas ao ler o artigo eu acabei tendo uma aula de tracing, bem didática e esclarecedora do ponto de vista técnico, mas que por si só nos diz muito pouco sobre esta guerra. O autor do artigo mostra como um míssil Tomahawk funciona por dentro, mas fala muito pouco dos outros fatores envolvidos na batalha. O que eu penso que está errado neste tipo de análise é falar de RIA considerando apenas os aspectos técnicos (o que não é incomum por aí) e talvez isto se deva ao modo como RIA vem sendo entendida ao longo dos anos.

Primeiro a Macromedia lançou o termo RIA em 2002 com Flash MX que trouxe componentes de interface para permitir aos programadores desenvolver aplicações Flash de modo mais fácil. Mas o Flash era da Macromedia e neste ponto o RIA era o mal. Alguns anos depois o Ajax explodiu e logo virou ele mesmo sinônimo de RIA. Neste ponto o RIA já não era tão mal assim (pois, segundo a utopia socialista Open-Source, nada que tem a ver com o mundo do Software Livre é o mal até que provem o contrário, e tudo que NÃO tem a ver com este mundo é o mal até que provem o contrário). Este ano o Google lançou Chrome melhorando incrivelmente a performance do JavaScript e agora RIA é sinônimo de velocidade de processamento no cliente. Oras, isto deixa claro como nós de TI cometemos o mesmo erro sempre e sempre: vemos as soluções técnicas como o fim e não o meio.

Mas se estas soluções técnicas não são o fim, o que seria então? A resposta é: A experiência do usuário! Toda esta sopa de letrinhas (Flex, Ajax, JavaFX, etc) que nós adoramos vai nos causar uma bela dor de barriga se não entendermos que tudo que fazemos tem como objetivo final a experiência do usuário. Assim, tudo que diz respeito a RIA e que tem como objetivo melhorar a experiência do usuário deve ser considerado: não só compiladores, não só padrões Web, não só efeitos e animações, não só multimédia, não só Design, não só facilidade de manutenção, não só tempo de execução no cliente. Avalie estes termos isolados e você estará se iludindo. Considere todos eles, atribua pesos maiores aqueles que trazem maiores benefícios à experiência do usuário e talvez você tenha um bom ponto de partida.

Tomemos o Design, por exemplo, algo que muitos programadores entenderão como “colorir”, “enfeitar”, etc, mas que está muito mais diretamente relacionado à experiência do usuário do que o mais recente Design Pattern que nós programadores gostamos de usar para prever o que não pode ser previsto. O que estas tecnologias “novas” trazem de bom para melhorar o Design das nossas aplicações? No Silverlight, por exemplo, a integração entre Designers e Desenvolvedores parece muito mais natural do que jamais vimos desde que existe desenvolvimento de Software. Isto é extremamente importante porque permite que as idéias do Designer não sejam podadas pelas limitações técnicas. Mas o Google faz coisas incríveis só com padrões Web sem precisar de ferramenta alguma que promete resolver todos os problemas que existem no fluxo de trabalho Designer x Desenvolvedor. Porém, o Google não é uma empresa normal concorda? E cá entre nós, você conhece muitas empresas “normais” fazendo RIAs realmente boas só com padrões Web? Por que não?

Talento Vs. Ferramentas

Todos sabem que o Google tem alguns dos melhores programadores do mundo. Mas não é só isso. De fato, o Google tem uma equipe multidisciplinar bastante talentosa para fazer as RIAs que eles fazem – e isto incluí o Designer. Podemos assim dizer que o talento da equipe do Google sobrepõe as demais variáveis que podem impactar o desenvolvimento de uma boa RIA. Este poder do talento sobre a tecnologia é tão evidente que até hoje um dos melhores sites em Flash que eu conheço foi feito em 1998 com Flash 3. Confesso, dêem-me o Flash 10 e eu não faço algo melhor.

Mas nem todas as empresas podem se dar ao luxo de ter uma equipe só de craques. E quanto menos abundante for o talento mais dependeremos de boas ferramentas. Antigamente, apenas os artistas eram capazes de fazer algumas das coisas que qualquer adolescente curioso hoje faz no Photoshop. A ferramenta é tão boa que permite às pessoas “normais” alcançar bons resultados dentro do prazo. E é disso que precisamos para fazer RIAs viáveis. Vale ressaltar que não estou falando que as empresas não possuem pessoas talentosas, mas com certeza é raro compor um equipe com várias pessoas talentosas, algo aparentemente necessário nos dias atuais para se fazer RIAs com os padrões Web.

Para uma RIA ter sucesso a integração Designer x Desenvolvedor deve ser muito boa. Por isto, de nada adianta você ter a solução técnica (fazer no notepad ou num editor de texto mais avançado) se não existem boas ferramentas para resolver o problema do Fluxo de Trabalho entre as pessoas que usam o lado direito e a pessoas que usam o lado esquerdo do cérebro. Mas não posso dizer que apenas isto definirá quem vencerá a Guerra das RIAs. De nada adianta um bom Design de Interface se por problemas inerentes à plataforma a performance é prejudicada.

Como toda Guerra, a Guerra das RIAs terá diversas batalhas: do compilador ao Design, da performance à multimédia. E somente aquele que vence mais batalhas e as mais importantes pode ser aclamado no final.

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