Técnico

UX – Modelos Mentais, Design Intuitivo?

 

É praticamente impossível tratar o tema de Usabilidade, Arquitetura de Informação e por fim UX, sem tratarmos dos aspectos psicológicos do ser humano. Mas, não quero vir aqui com terminologias e mais terminologias, o que procuro fazer é tentar “humanizar” o artigo para facilitar o seu entendimento e trazer a idéia para ser discutida.

Modelos Mentais nada mais é que a idéia que cada pessoa faz sobre algo que é dito para ela e que a e mesma nunca viu. Exemplo, suponha que eu cite sobre o funcionamento do Kindle Touch a um usuário de iPad, e este usuário nunca tenha visto o Kindle Touch. O mesmo vai passar a criar um modelo mental sobre como é o Kindle e como ele funciona, vai se basear no que eu falar a respeito e sobre a idéia que ele tem do funcionamento que já está acostumado, em resumo, vai utilizar a cultura que conhece para estabelecer um paralelo que ele possa entender.

Eu posso dizer que “O Kindle tem uma tela também sensível ao toque, porém  menos responsiva que o iPad, sua tela é monocromática, usa a tecnologia E Ink que permite simular o papel, não contém luz própria e depende de luz externa para a leitura tal como o papel”. Desta forma, supondo que você nunca tenha tido contato com o Kindle qual seria sua percepção? A primeira coisa que faria é utilizar a idéia dos e-Readers que você já conhece, tablets, smartphones, ou mesmo o próprio computador, depois imaginaria provavelmente que o Kindle tem uma tela branca (tal como o papel), apesar de que ele não tem, e ainda, o touch pouco responsivo poderia dar a falsa idéia de que ele possui uma usabilidade ruim.

 

 

A idéia de comentar sobre Modelos Mentais e seu funcionamento é pelo fato de eu ter comentado muitas vezes em outros posts sobre as metáforas utilizadas pela Apple em suas User Interfaces.

A grande dificuldade hoje é comentar sobre esse assunto e dizer que isso se trata de Design Intuitivo, e as pessoas confundem a idéia de intuição com algo que deve ser tão fácil, mas tão fácil que até mesmo uma criança conseguiria mexer, e não é bem assim que lidamos com a idéia de intuição no Design.

A intuição atrelada a idéia da User Interface tem ligação direta com os Modelos Mentais que o usuário faz ao observar ou entender o que se passa na UI. Como isso funciona? Simples… ao observar primeiramente uma UI nunca antes vista o usuário cria logo modelos mentais do que virá a ver logo a frente, baseado obviamente em tudo que já viu, se ele por ventura se depara com algo diferente do convencional tem por consequencia a idéia de soltar aquela frase tão assustadora para os Arquitetos e UX Designers: “Essa aplicação não é intuitiva…”

 

Mas afinal, o que é essa intuição na área de User Interface?

A solução é utilizar o Modelo Mental juntamente com o Modelo Conceitual que o usuário pode ter da aplicação.
Vou trazer algumas idéias sobre o assunto, mas será difícil fugir das terminologias da área.

SUTCLIFFE

“Modelos mentais podem tanto ser físicos como conceituais. Modelos físicos descrevem o relacionamento de objetos no mundo real em termos de distribuição espacial de eventos em um período. Podem ser visualizados, especialmente se o problema envolve raciocínio espacial. Modelos conceituais existem em diferentes manifestações. São expressões lingüísticas superficiais e em uma linguagem interna que, embora baseada na lingüística, representa uma abstração futura. Modelos conceituais são uma espécie de linguagem mental interna que representa valores reais sobre objetos e suas relações. A forma dos modelos mentais diferem entre pessoas e depende de estilos cognitivos pessoais.”

PREECE
“Quando interagimos com qualquer coisa, seja o ambiente, outra pessoa ou artefatos tecnológicos, formamos modelos mentais internos de nós mesmos interagindo com eles. Quando executados ou repetidos do início ao fim estes modelos mentais propiciam as bases a partir das quais podemos predizer ou explicar nossas interações.”

NORMAN
“Modelo mental é o nosso modelo conceitual particular da maneira como um objeto funciona, eventos acontecem ou pessoas se comportam, que resulta da nossa tendência de dar explicações para as coisas. Esses modelos são essenciais para nos ajudar a entender nossas experiências, prever reações de nossas ações e manipular ocorrências inesperadas. Nós baseamos nossos modelos no conhecimento que temos, real ou imaginário, ingênuo ou sofisticado.”

“Modelos mentais são sempre construídos de evidências fragmentadas, com um entendimento pobre do que está acontecendo, e com um tipo de psicologia ingênua que postula causas, mecanismos e relações mesmo quando elas não existem.”

O problema está quando o usuário teve uma péssima experiência ao utilizar determinados recursos de um sistema e esse mesmo recurso existe no seu sistema, porém você o está usando de forma correta, mas… o usuário terá o modelo mental de como utilizar tal recurso e vai se recordar da má experiência que teve anteriormente.

Logo, é necessário para causar a sensação de Design Intuitivo guiar o usuário através dos passos que deseja que ele conclua, tentando não só mapear os Modelos Mentais dos usuários a respeito da idéia que eles tem sobre determinado assunto ou UI bem como Conceituar tais modelos de forma que fique tão simples e fácil que o usuário acredite que é “intuitivo”, quando na verdade esse aspecto de intuição não existe, trata-se apenas da maneira correta de se usar os Modelos Mentais.

Quando não, você pode utilizar a cultura do usuário para explicar determinadas funções de forma tão inteligente fazendo as analogias corretas para que o usuário tenha uma idéia do que está acontecendo. E para fechar o artigo, essa é a forma que a Apple utiliza nas suas UIs, o uso das metáforas como meio de mapear os modelos mentais do usuário e conduzir as idéias deles para aquilo que se deseja que ele entenda do sistema.

Confira também os artigos:

Psicologia do UX Design – 1

Psicologia do UX Design – 2 

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Eduardo Horvath é UX Specialist e Designer na redspark.
Formado pela Faculdade Impacta de Tecnologia no curso Design de Mídia Digital ele atua na área de Design há mais de 15 anos.
@eduardohorvath

 

 

6 Comments

  • Beck Novaes disse:

    Muito bom! Mas permita-me tentar falar de outra forma sobre Modelos Mentais e intuição:

    Independente do usuário nunca ter usado um dispositivo ou um determinado software, o que evoca a criação do seu modelos mental é o seu o-b-j-e-t-i-v-o. Você quer fazer algo e quando vê uma User Interface a interpreta de tal forma a encaichá-la no modo-que-você-acha-que-ela-funciona (o seu Modelo Mental). Quando a “leitura” que você faz da User Interface casa com o seu modelo você se vê satisfeito. Mas quando não casa, o você fica frustrado.

    A maneira como você cria este modelo depende muito das experiências passadas. Você pode esperar o comportamento de uma User Interface porque já viu outras semelhantes, mas pode também esperar que determinadas coisas aconteçam porque nas coisas do dia-a-dia são assim, daí o uso das metáforas a fim de facilitar o processo (você coloca coisas numa pasta porque no mundo real é assim).

    Sobre ser intuitivo é que a maioria dos Designers e Arquitetos de Informação exageram. Existe o mito da Usabilidade (e muitos outros) de que se algo não é intuitivo não é bom. Mas eu sempre falo do exemplo o iPod do iPhone. Se você pegar um usuário leigo ele não saberá que pode colocar o celular na horizontal para ver as capas dos CDs (Coverflow). Agora imagine um Arquiteto de Informação com esta regra no coração trabalhando na Apple: “isso não é intuitivo, não vamos fazer assim!” Mas será que seria melhor colocar um botão lá no iPod que deixasse claro que esta funcionalidade existe? Claro que não! Por isso que eu não gosto muito de “regrinhas”. As pessoas se apegam a elas e perdem grandes oportunidades de criarem outras soluções como as do Coverflow do iPhone.

  • Eduardo Horvath disse:

    @Beck, acredito que em vez de falar de “outra forma” a mesma coisa, você na verdade completou parte da informação, o tema é realmente vasto, valew pelo comentário =]
    Dizem que o primeiro indivíduo a falar sobre modelo mental foi K.J.W. Craik, isso em 1943, faz tempo rs.. o nome do livro é: The Nature of Explanation (http://www.amazon.com/dp/0521094453/ref=cm_sw_su_dp), mas, tem discussões a respeito se foi ele realmente o primeiro etc.. mas isso não vem ao caso.

  • Karina disse:

    Suponho eu que a Apple, ao utilizar tais modelos mentais (baseados nas ações humanas do dia a dia, como virar uma página de papel da revista) acaba trazendo á tona outra questão: O fato de ainda estarmos engatinhando e tentando descobrir, realmente, qual a verdadeira linguagem hipermidiática.
    Considero que é preciso identificar as propriedades inerentes à linguagem hipermidiática (e ao ciberespaço), definindo assim as características intrínsecas ao ambiente digital para a formulação de projetos que possibilitem a experiência do usuário nesse novo meio, não apenas transferindo as informações de meio, mas sim, adequando-as.
    Como por exemplo as revistas virtuais. Algumas já começaram a explorar algumas possibilidades da linguagem hipermidiática, mas a grande maioria ainda “transfere a linguagem de suporte”, trazendo do mundo físico para o virtual, como o gesto de virar uma página, ou de visualizar uma página no seu tablet, como se tivesse realmente uma folha de papel ali dentro, tendo que arrastá-la para ver suas informações (eu, particularmente, considero mais difícil receber a informação contida ali desta forma).
    Acho que os modelos mentais estão sendo levados ao pé da letra nestes casos… Ou estou me equivocando? rsrs

  • Eduardo Horvath disse:

    Bom dia Karina, na verdade foi bem colocado o seu ponto de vista. Concordo sim que quando levamos ao pé da letra tais metáforas corremos o risco das mesmas não se adequarem ao mundo virtual, eu particulamente detesto o ato de virar páginas no mundo virtual, o tal pageflip, podemos ver que o Kindle da Amazon não utiliza tal recurso, é apenas um fade rápido, o que torna prática a navegação e visualização do livro.
    Mas é importante ressaltar que tudo tem um ponto de início, quando estamos falando em novas tecnologias e o usuário não tem referência de nada sobre a mesma, será necessário utilizar o aspecto cultural do qual o usuário está acostumado, ou seja, aquilo que ele conhece. Quando surgiu o computador foi necessário o uso de metáforas do mundo real, hoje podemos migrar tais metáforas para recursos mais inteligentes devido o usuário já estar culturalmente familiarizado com as novas possibilidades. Porém, quando se explorar novas recursos como o Multi Touch 3D, e outros, é óbvio que utilizar gestos que estamos acostumados nos trará mais conforto que criar gestos próprios para tais recursos. O que quero dizer é, o ponto de partida deve ser algo conhecido pelo usuário, o acréscimo pode ser algo do qual educamos nossos usuários, mas… ele precisa ter algo com o qual se sente confortável para ter uma boa experiência, algo que ele acredite ser “intuitivo” por ser utilizado por ele constantemente. E aquilo que o usuário faz constantemente está no mundo real.

    Porém, cabe o bom senso, como citado no artigo, de utilizar alguns pontos como metáforas e não exagerar no seu uso. Para mim o pageflip é exatamente exagerar, eu lembro até de livros que eram feitos (em Flash) que continham capa etc, porém, copiavam a idéia do pageflip para o mundo virtual mas o ato de virar páginas seria vamos dizer, a última coisa que deveria ser copiada, porque é algo cansativo e do qual só fazemos em um livro porque não temos opção rs, ao passo que, podemos explorar um livro rapidamente no mundo real indo para as páginas avançadas e esse benefício não era possível no pageflip.
    O que quero dizer é, deve-se explorar os recursos corretos e não apenas utilizar metáforas somente porque supostamente o usuário as conhece.
    Eu sempre achei chato ter que virar páginas de um livro, segurá-lo etc (principalmente livros grandes), ler na cama não era sempre confortável, e hoje estou certo que os livros tinham sim suas limitações, pois utilizo atualmente um Kindle, e posso ver o quanto é muito mais confortável ler um livro através dele.
    Obrigado por deixar seu comentário, não existem verdades supremas nessa área, existem pontos de vista e exploração =]

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